domingo, julho 26, 2015

Minha experiência da semana e por que algumas garotas não jogam RPG

Essa foi uma semana privilegiada, foram quatro jogos, eu vou comentar três especificamente. Por sorte também foi uma semana reflexiva e eu consegui observar algumas coisas durante esses jogos. Não que eu pretenda decifrar algum mistério do universo nesse post, mas eu acho que começo a vislumbrar um dos motivos para algumas pessoas acabarem perdendo o interesse pelo RPG (quando se dispõe a tentar).


Quarta teve Adventurers League, foi meu decimo sétimo jogo na Geek House com o pessoal da RolePlayers e foi exatamente o quão bom um jogo de 2h pode ser. O mestre era bom e o D&D Next é o D&D Next. O interessante dessa quarta-feira é que teve uma outra garota no grupo. Uma que não fui eu que levei. Já joguei com outras garotas na Adventurers League, já vi algumas em outras mesas, mas antes todas as que jogaram comigo eram minhas amigas, que eu convidei, arrastei até lá, e que por sinal jogaram uma ou duas vezes e nunca mais voltaram :P

Foi bom ter outra garota na mesa, bom de um jeito bem subjetivo por que nossa interação foi zero. Nossas personagens fizeram exatamente dois ataques cada uma durante o jogo e absolutamente nada mais, eu falei alguma coisa que ninguém ouviu, ela não falou nada, ou se falou ninguém ouviu também.
Eu comecei a reparar que, dependendo dos outros players da mesa, as pessoas mais comedidas simplesmente não conseguem jogar. Assim que o mestre termina a descrição, e as vezes até antes, dois dos nossos companheiros já estavam disputando a palavra e fazendo sete ações por rodada. A menos que o mestre explicitamente nos desse a palavra jamais teríamos a menos chance de fazer algo naquele jogo. Claro, alternativamente poderíamos sair falando e torcer pro resto calar a boca, dar uma chance, e ouvir, o que não aconteceu nesse dia e no meu caso nunca vai acontecer. Por que não? Por que a minha noção de boa educação sugere que eu devo deixar quem quer falar falar.
Foi um bom jogo, os dois ávidos jogadores representavam legal, ri bastante, mas praticamente não joguei. Se tanto eu quanto a minha colega estivéssemos apenas assistindo o jogo muito pouco teria mudado.
Eu me permito supor que nem todas as garotas pessoas tímidas ficam contentes de só assistir um jogo enquanto seus companheiros não dão a menor chance delas se pronunciarem. Eles não faziam por mal também, eram apenas pessoas empolgadas com o jogo e ansiosas mas, esse me parece ser um dos motivos possíveis para algumas garotas se afastarem do jogo.

Sexta-feira, o jogo pela Internet.
O jogo pela internet tem a parte boa de você ser livre para escrever, sem estar cortando ninguém. Eu consigo fazer mais ações e representar melhor escrevendo, até por não ter que “encenar” nada, apenas descrever com texto. Porém eu já gostei mais de jogar online. Com o tempo os jogos online se tornaram uma fonte de eventos traumáticos. Tudo que pode dar errado em um jogo de mesa consegue ir vários, váaaarios, níveis mais baixo em um jogo por texto na internet.
O jogo era D&D 3.5, a aventura trata das Crown Wars, é um momento de guerra civil e religiosa entre os elfos e esta começando a se formar o grupo que no futuro se tornará conhecido como drow, seguidores de Lolth. 
Talvez seja a falta de entonação de voz no jogo por texto mas um dos players simplesmente não consegue entender sarcasmo e ironia. Meu personagem revira os olhos e diz “Ahan, isso é uma óoootima ideia”, e o player em questão abre um PVT para me explicar por que não é uma boa ideia. e como eu estou "jogando errado". As explicações obviamente vem com coisas como “se liga” ou “você esta entendendo?”. Essa não é a pior coisa que pode acontecer com alguém na Internet mas é chato mesmo assim.
Lá pelas tantas o matriarcado, tipico dos drow, foi mencionado e eu apenas me arrependo de não ter dado print na explosiva demonstração de misoginia que eu assisti na sequencia.
Engraçado é que eu não dava a minima para essas coisas antes, eu não percebia elas, acho que tenho andado com más companhias ultimamente :P
No final eu também desanimei do jogo e voltei ao modo default em que só participo quando o mestre efetivamente me passava a ação, o que em geral significa jogar pouco.
Eu achava que ter alguém te antagonizando, mesmo que não intencionalmente, não era um problema mas, acontece que é um problema sim. Pode ser divertido por um tempo, mas se acontece sempre entre as mesmas pessoas começa a ficar desagradável e embaraçoso o bastante para valer a pena mudar de grupo, ou de hobby.

E por fim, o jogo de ontem, sábado;
Foi uma mesa de Lobisomem - O Apocalipse só com jogadoras. Eu fiz questão de participar pelo ineditismo da experiência; uma narradora, cinco jogadoras. Uma alcateia inteira da mesma tribo (o que eu considero um grande sucesso) com um augúrio para cada personagem.
O jogo demorou bastante para começar e é impossível não mencionar que começou com uma consulta aos espíritos da moda, sim espíritos da moda, para os quais foi ‘sacrificada’ uma carteira de alguma marca famosa e cara (isso esta fora do alcance dos meus conhecimentos, a marca foi mencionada mas eu não vou passar no teste para lembrar). Para ficar mais estereotípico só se tivéssemos sacrificado um par sapatos para, deixa eu reforçar, os espíritos da moda.
Depois veio o almoço “de negócios” com o NPC fodão, por isso as instruções do espirito da moda foram valiosas, fazer uma boa impressão era essencial. Esse inicio de jogo me causou um estranhamento a principio mas logo consegui encarar isso como uma outra dimensão do jogo, algo revelador, não só sobre os personagens mas sobre as jogadoras, uma coisa que enriquece a experiência, não era apenas “vamos bater em algo, rápido!”. 
Evidentemente também tivemos que bater em algo, o inimigo da vez era uma bola de cabelo, como aquelas que sobram no ralo depois do banho e entopem tudo se você não limpa. Uma bola de cabelo mal cheirosa, com lodo e garrafa pet, saída direto do fundo do rio Tiete. Sério, nada poderia causa mais assombro no público desse jogo, é a extrapolação da realidade de forma que todo mundo podia sentir o ‘drama’ do negócio. Me assustou o fato de ser tão fortemente ligado a uma tarefa doméstica mas foi eficiente em causa nojinho, mais eficiente que os gore de muitos outros jogos.
No fim matamos uns dançarinos e salamos nosso caern. Foi um jogo one shot com pouquíssimo Role-Play e muita conversa em off mas que conseguiu contar uma história completa em uma cadencia agradável.
Todas as meninas conseguiram falar. Algumas mais, outras menos mas, ninguém ficou sem participar do jogo. Fosse em combate ou em planejamento todas se manifestaram. Eu por sinal me sinto culpada pelo maior crime da mesa; arrombei a porta que que a ragabash poderia ter aberto com skill/dom/truque apropriado (quando eu jogo de rogue eu odeio perder a chance do open lock, quem diria, justo eu, meti o pé na porta dessa vez =o.o=).
O jogo tinha um proposito social muito claro, que foi atingido eu acredito, e além disso foi divertido.

Bem, eu penso que um mestre homem não teria feito um ‘espirito da moda’ útil, eu penso que uma garota talvez nem tivesse dito isso em uma mesa diferente dessa. E confesso que a principio eu mesma achei a ideia esquisita mas ouvir a ideia foi bom para os meus próprios paradigmas. Ter visto a ideia funcionar e a forma como a Eva (narradora) conduziu o efeito foi melhor ainda.
Em fim, acho que a primeira coisa para ter uma jogadora (e jogadores tímidos, e vários tipos de pessoas) na mesa é criar um clima confortável, onde as pessoas tenham chance de falar e não sinto receio de faze-lo. Manter a mente aberta é fundamental.