segunda-feira, março 11, 2013

Cachorro na praia

Nós vivemos em um país "engraçado" onde nossos legisladores precisam fazer leis, não tem (em geral) qualquer preparo para isso, e abusam da criatividade.
Após alguma conferencia descobri que, segundo leis municipais, a presença de cães e animais de estimação de toda sorte é proíbida em toda Florianóplis, em Maresias, nas praias concessionadas (quase todas) do Rio de Janeiro e (embora nos outros casos eu não tenha achado a lei especifica) aparentemente na maior parte do Litoral Brasileiro.

Eu não vou entrar em detalhes sobre a lei em sí. Para quem se interessar, eu li tudo, e aqui esta: LEI COMPLEMENTAR 94/2001- Código de Proteção Animal- Florianópolis/SC. De fato é proibida a presença de cães, gatos e outros animais em qualquer praia. Do jeito que esta escrito são priobidas também aves, peixes, etc. Trofeu joinha. :P 
E o mais legal, o município nao indeniza casos em que animais apreendidos são feridos ou vem a óbito. Precisa ou não precisa de revisão?

Obviamente a lei não nos diz "por que" não levar cães a praia. Eu tenho sérias dúvidas de que metade dos vereadores se lembrem do que é um "bicho geográfico". Se é que ainda se ensina isso na escola hoje em dia, do jeito que anda a educação, vai saber. Mas o bicho geográfico é o top culpado pela proíbição de cães na praia. Além dele são frequentemente mencionadas a sarna, micose e toxiplasmose¹.

Hoje em dia, os donos de cães que se importam com eles o bastante para leva-los caminhar e se exercitar são bem mais conscientes do que era a humanidade em geral 10 ou 20 anos atrás. Com campanhas de conscientização e sacolinhas de lixo de todos os tipos sabemos que as pessoas tendem, cada vez mais, a recolher as fezes dos cães. Recolher a urina, especialmente de cães pequenos, também não seria um problema, com uma pázinha (que muitos donos já utilizam nos passeios) ou mesmo usando o saquinho de lixo como luva é possível retirar boa parte da areia que foi molhada pelo xixi, da mesma forma como se limpa uma areia higiênica. 
A mudança cultural é o primeiro ponto que evoca a mudança da lei, na minha opinião. Um cão com dono não oferece mais risco ao banhista do que as gaivotas, garças, animais de rua... vacas?

... vazamento de óleo, poluição, lixo arrastado pela chuva (que incluí urina de ratos), fluido com rastros de esgoto e outros tipos de contaminação.
Na verdade um cão com dono, preso em uma coleira, deve oferecer um risco ainda menor do que o faz um outro humano com frieira ou  qualquer tipo de micose. Proíbem pessoas com frieira de irem a praia ou apenas contam com algum bom senso das mesmas? Os maiores vetores de transmissão de doenças humanas são os próprios humanos.
Cães abandonados, ou que nunca sequer tiveram dono, são vistos na praia com alguma frequência. Causam receio na população, especialmente por andarem em matilhas normalmente. Mas dúvido que um dia leremos a manchete "Após passagem de cães pela praia três crianças ficam doentes".
Fonte: Diário Catarinense. 

Ao contrário do que pode parecer eu não acho que é a existência dos cães de rua que justifica a possibilidade dos cães com donos acessarem a praia. Todos os animais deveriam ser cuidados, vacinados, terem sua saúde assistida.
A praia é uma área em geral natural cuja a apreciação não deveria ser negada a nenhuma espécie que se interesse por ela. Eu já vi cães que não se importam com a praia, cães que não gostam de arei, mas também existem os que adoram as ondas e se divertem muito com elas. Limitar uma felicidade que não lesa ninguém me parece errado per se.  Eu entendo que esse argumento foi meramente emocional e não discordo dos que optarem por desconsidera-lo.

No exterior existem diversas abordagens para a questão, existem praias para animais da mesma forma que existem praias de nudismo. Em Portugal uma solução que me chamou a atenção foi a de limitar o acesso dos cães a praia apenas na temporada. Isso faz sentido, os númerosos turistas e banhistas de verão não precisam conviver com os cães, e os mesmos cães não deveriam visitar durante temporadas de alta. Até mesmo pela já elevada densidade de humanos.

Por outro lado, não ha por que impedir os cães de se deleitarem nas quase desertas praias de inverno ou outros momentos do ano. Pela baixa frequência qualquer risco de contaminação já é radicalmente reduzido.
Ou, alternativamente, pode-se estabelecer praias que recebem animais e praias que não.
Eu acredito que uma medida alternativa à atual deva ser adotada. Primeiramente por que a atual não é observada, não é obedecida nem fiscalizada a contento. Não precisamos de leis que somos livres para desrespeitar impunemente a qualquer momento. Será que fiscais de cachorro na praia são nossa prioridade?     Qual o verdadeiro benefício social dessa lei?

Hoje meu cachorro foi a praia, e por isso o post. Pensei a respeito, existem mais doenças envolvidas do que eu imaginava quando comecei a escrever isso, ainda assim de incidência mínima a ponto de não se poder contar os casos de "doença adquirida na areia da praia". Mudei de opinião, parcialmente, a medida que redigi essas linhas. Mas ainda acho que a situação deve ser revista. 
Na prática, durante minha breve estada na praia uma pessoa comentou casualmente, para que eu ouvisse , que "praia não é lugar de cachorro" não tive a oportunidade de conversar com o sujeito, depois que ele se foi fiquei curiosa se ele segue a lei pela lei (o que é completamente válido, eu aprovo e sou contra atravessar fora da faixa de pedestres por exemplo) ou se algo nos cães realmente o incomoda a ponto de que a presença de um cão torne a praia menos "aproveitavel". 
Três pessoas pararam para assistir o cachorro brincar na água. Dentro da minha limitada capacidade empática arrisco dizer que elas pareciam agradadas. Algumas pessoas ainda tem a delicada habilidade de compartilhar a felicidade dos outros, de ficarem felizes pelos outros. Pouco a diante, quando já nos retiravamos, um casal de velhinhos me parou, conversamos um pouco, rimos, falamos sobre os cães deles e outros cães.

Quanto perdemos e quanto ganhamos nos privando de coisas simples - e de certa forma inevitáveis no caso de animas de rua - como cães na praia?
Depois de reconsiderar as doenças, ler sobre elas muito mais do que referenciei aqui, ainda acredito que a impedir os cães de frequetarem a praia lesa tanto os animais quanto os donos que desejam a felicidade e a companhia dos pets. Novamente, da mesma forma que existem praias de nudismo e outras praias, podem ser estabelecidas praias que aceitem atividades com animais (presença de cães, cavalgadas, etc) e outras que não. Todas as pessoas teriam a opção de visitar um local adequado a seus interesses.

E não são só os cães que querem ir a praia:
 
Fotos da Lu,  do CanoaBrasil e UOL

¹
Micoses: Sendo "frieira" uma delas, são um risco na areia de fato, já a água salgada por outro lado não é nada favoravél a esses fungos. Brincar no tanque de areia da escola ou parquinho representa um risco maior.
Toxoplasmose: O hospedeiro final é o gato, para contrair a doença é preciso INGERIR particulas infecciosas. Se você come areia da praia ou deixa seu filho comer, você também merece ficar em casa >.o
Sarna: Existem dois tipos de sarna, um deles afeta ambos homem e cão. Outro, a sarna negra causada pelo Demodex canis, afeta apenas cães. Uma boa prevenção é não esfregar os cães dos outros na praia :P

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